Entrevista a Sandra Carvalho - A Noite do Caçador - Review
By October Moon - setembro 24, 2019
Opinião do livro
Esta
foi a primeira vez que tive contacto com uma obra de Sandra Carvalho e foi uma
(muito) agradável surpresa! Até ter começado a ler este livro, não conhecia o
trabalho da autora pelo que decidi começar esta leitura sem criar qualquer tipo
de expectativas para evitar desilusões, especialmente por se tratar de um
género literário como a fantasia, no qual costumo ser mais exigente.
Rapidamente
comecei a perceber o talento da autora e a ficar cada vez mais presa e curiosa
para continuar a ler a história. Não só a escrita, mas também a construção do
mundo e a hierarquia mágica está extremamente bem conseguida sendo que não
senti que estava a ser bombardeada de personagens (como senti, ao ler George
R.R. Martin) e em momento algum, senti que houvesse lacunas na história.
Posto
isto, gostei muito das personagens, que são tudo menos unidimensionais. À
medida que a história avança é notório o crescimento e desenvolvimento das
personagens e outro ponto a favor é que somos presenteados com personagens
femininas e masculinas muito fortes e carismáticas, o que adiciona profundidade
à história em si. Ao longo da leitura, criei um laço com as personagens bem
como um carinho especial pelas mesmas, aspeto que, na minha opinião, é
fundamental para que o livro se torne inesquecível.
A
narrativa é densa, sentido em que, está repleta de pormenores e pequenos
detalhes que nos auxiliam na construção e na imaginação daquilo que se está a
passar, ainda assim, a autora atingiu um bom equilíbrio uma vez que a história
é também bastante dinâmica.
O
único apontamento que gostaria de fazer relativo à leitura, é um trigger
warning: para leitores particularmente sensíveis à presença de violência ou
violação – embora sejam episódios muito breves e esporádicos.
Recomendo
muito esta leitura, particularmente a quem gosta de histórias que envolvam
magia, e fiquei muito curiosa com as restantes obras da autora. É excelente que
haja talento nacional assim tão bom! Resumidamente: do que estão à espera para
ler este livro?
RATING: ★★★★★/5
Entrevista à autora
1.
Qual foi a inspiração por detrás da construção de todas as vertentes mágicas
presentes na história?
Sandra - A ideia para o livro A Noite do Caçador surgiu
há muitos anos, na minha adolescência. A vontade de misturar realidade
histórica com fantasia levou-me a criar um mundo governado por povos de sangue
mágico, inspirados nos quatro Elementos, com pouca ou nenhuma simpatia pelos
seres humanos. Na verdade, o universo d’ A Noite do Caçador é o
mesmo que o d’ A Saga das
Pedras Mágicas. As duas histórias nasceram em paralelo, mas o romantismo da Saga acabou por vencer e
seguiu em frente, talvez porque A Noite do Caçador explora
conceitos e sentimentos que, na altura, eu não tinha conhecimentos nem
maturidade para desenvolver. Trinta anos passados, com a Saga concluída e após
abraçar o enorme desafio que foi a construção das Crónicas da Terra e do Mar,
senti vontade de regressar à minha «magia de origem» e contar a história da
primeira feiticeira renegada pelos seus pares por se ter apaixonado por um
humano.
2.
Existe algum escritor que considere ser uma referência ou que sente que
influenciou a sua formação e estilo de escrita?
Sandra - Eu cresci apaixonada por muitos autores e, como é
natural, todos contribuíram para a minha imaginação e formação. No entanto,
existem dois que admiro particularmente: Michael Crichton, pelo modo genial
como fundia a ciência com a fantasia, e Marion Zimmer Bradley pela emoção da
sua escrita e pela força das suas personagens femininas.
3. Por ser uma obra com elementos de fantasia
como a magia, fez algum tipo de pesquisa que auxiliasse a construção do mundo e
das personagens?
Sandra -
Todos os meus livros têm por base a realidade histórica, porque acredito que é
importante transmitir algum conhecimento aos leitores sempre que eles mergulham
no meu mundo. Logo, isso implica pesquisa sobre o tempo e o espaço onde se
desenrola a ação, bem como sobre os usos e costumes dos povos que me servem de
inspiração. Quanto às personagens, construo-as como se fosse homens e mulheres
verdadeiros, com as respetivas virtudes e defeitos, imaginando o que alguém com
aquelas características diria e faria em determinada situação. A mente humana é
apaixonante, e os instintos e sentimentos básicos que nos movem são os mesmos
que compeliram os povos da antiguidade, por isso torna-se fácil encontrar um
fio condutor.
4.
Quais as suas personagens preferidas (masculina e feminina) e porquê?
Sandra - Não é fácil responder a essa questão sobre A Noite do Caçador, porque
todas as personagens são complexas. No entanto, no universo masculino há duas
que sobressaem. Theron é um homem brilhante que, envenenado pelo rancor,
destrói tudo à sua volta. Quando recupera a razão, é tarde, e vai passar o
resto da vida a lutar para remediar o mal que fez. Uns dirão que conseguiu,
outros que não… Já Mikkel é um garoto carente de aprovação e desejoso de
descobrir as suas origens. Isso irá marcá-lo enquanto adulto e influenciar
muitas das suas decisões, transformando-o num herói imperfeito. Já no universo
feminino o destaque torna-se mais difícil, porque todas as mulheres contribuem
para a história em momentos distintos, com importância similar… Hilda foi uma personagem
dolorosa de compor, por representar uma realidade terrível com que nos
confrontamos todos os dias! Geira é a matriarca; Kitta, a jovem apaixonada…
Acho que gosto particularmente da Rúna, porque foi crescendo ao longo da
história, cometendo erros e aprendendo com eles, acabando por conquistar a sua
felicidade.
5. Desde o lançamento do seu primeiro livro,
até ao lançamento deste, quais as principais diferenças que nota enquanto
autora?
Sandra - A
Saga foi estruturada naquela que chamo a minha «idade da inocência». Quando
escrevi a primeira parte da história, que deu origem à Última Feiticeira e ao
Guerreiro Lobo, não fazia a menor ideia de que iria ser publicada, nem
tão-pouco o ambicionava, pois esse era «o sonho que eu não me atrevia a
sonhar». Como é óbvio, após a publicação, senti o peso da responsabilidade de
saber que muitos jovens irão ler o que escrevi e até mesmo usá-lo como base de
estudo, o que me leva a ter especial cuidado com a gramática; a ler e a reler o
que escrevi para evitar erros. Também, ao longo dos anos, fui adquirindo
conhecimentos e acumulando experiências que trago para as narrativas… Eu
amadureci; a minha escrita amadureceu comigo. Quem me acompanha desde o
primeiro instante apercebe-se desse crescimento. A meu ver, é um processo
natural, baseado na vontade e no esforço de estar constantemente a inovar e a
tentar melhorar, não só como autora mas também como pessoa. Não obstante, a
preocupação com a pesquisa histórica e com a autenticidade das emoções nasceu
com a primeira frase da Saga e mantém-se até hoje. Escrevo por instinto, com o coração,
por isso, a consciência de que serei lida por um público diversificado não
influência as minhas opções. Continuo a ser quem sempre fui, a filha de um
pescador e de uma contadora de histórias, com orgulho nas minhas origem e no
percurso que fiz, errando e aprendendo, chorando e sorrindo, abraçando com
carinho quem me quer bem, desfrutando da vida a cada dia porque sei que pode
não haver um amanhã… Essa foi a maior e mais dura lição que a perda da minha
mãe me ensinou.
6. Quais são os planos para o futuro,
relativamente a novos trabalhos? Podemos esperar uma continuação da Noite do
Caçador?
Sandra -
Começando pelo fim, não. A Noite do Caçador é
uma história feita de várias histórias entrecruzadas, mas todas encontram o
devido desfecho no final. Quanto a planos para o futuro, tenho dezenas de
histórias iniciadas que nunca conheceram um fim, às quais gostaria de dar
atenção… Haja saúde e o carinho dos meus Companheiros de Aventura, e a
imaginação não me faltará!
Espero que a vossa curiosidade vos leve a descobrir este novo mundo fantástico que a Sandra criou, certamente não se irão arrepender de embarcar nesta aventura!
Resta-me deixar um agradecimento especial à Editorial Presença pela colaboração neste post, e claro, à autora Sandra Carvalho pela simpatia e disponibilidade que sempre demonstrou.
1 comentários
Devias ler a Saga das Pedras Mágicas. Ainda só li o primeiro e estou curiosa com este novo, mas vale bem a pena continuar a ler.
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