Uma mistura de cafés, viagens no tempo, lições de vida e... gatos

By October Moon - setembro 15, 2021


Já há alguns meses que li estes livros mas ainda não tinha arranjado o tempo necessário para me sentar e escrever, com calma, uma review para cada um deles.

A verdade é que embora os tenha lido em meses diferentes, assim que terminei ambos achei que poderiam apelar para o mesmo tipo de leitor ainda que tenham vibes muito diferentes entre si. O Café dos Gatos cumpre aquilo que promete ao ser fresco, original e bem-humorado, enquanto que Antes Que o Café Arrefeça é composto por histórias que abordam temas como a perda de entes queridos, o processo de luto e doenças graves, sendo por isso uma leitura mais taciturna.

É óbvio que nesta perspetiva não são livros minimamente parecidos, mas no que diz respeito ao ambiente em si, sim. Ambas as histórias decorrem num café e tanto uma como outra são leituras bem rápidas.



Antes Que O Café Arrefeça - Toshikazu Kawaguchi

Assim que li a sinopse deste livro fiquei muito intrigada. Gosto muito de explorar e conhecer novos autores de litetura japonesa (especialmente quando o género é realismo mágico), por isso foi juntar o útil ao agradável.

A história passa-se em Tóquio, onde existe um café com mais de cem anos, que permite aos clientes viajar no tempo quando se sentam num lugar específico, com uma chávena de café quente. O único senão é que existem várias condições: é preciso regressar antes que o café arrefeça (caso contrário, ficarão presos no passado) e nada do que seja feito poderá alterar o presente.Com esta premissa, acompanhamos várias histórias relacionadas com o staff e com os visitantes do café que abordam essencialmente temas mais pesados como o luto, a perda, morte de familiares e doenças.

A verdade é que, no final, achei toda a experiência de leitura muito anti-climática.

Senti muita estranheza com a escrita do autor e especialmente com as interações entre personagens, que me pareceram muito artificiais e quase robóticas na forma como foram descritas. Devido ao facto de tocar em temáticas tão pesadas, estava à espera que me fossem transmitidas emoções fortes mas na maioria das vezes senti muita frieza associada às ações e reações do elenco, o que fez com que também não desenvolvesse grande conexão com o que estava a acontecer. De um modo geral, as histórias revelam todas uma moral muito tradicional (às vezes até com pensamentos bastante antiquados à mistura), com o cariz mais denso que já referi anteriormente.

O que estava mais curiosa para conhecer era o elemento de viajar no tempo, maioritariamente porque é um sub-género que ainda não explorei muito nos livros que costumo ler. Mas, infelizmente, este aspeto acabou por ser a minha maior desilusão.As regras mostraram-se demasiado convenientes e sem grande explicação, e isso fez com que tudo o que se estava a passar não adquirisse qualquer tipo de dimensão.

Não é uma leitura má, e tinha muito potencial para ser um grande livro mas faltou-me qualquer coisa que não me permitiu passar das 3 estrelas no que diz respeito à classificação final. Pelas reviews que tenho visto de algumas pessoas que sigo - como a Melina Souza e o Jack Edwards - a minha opinião não corresponde à da maioria, por isso é possível que talvez o problema tenha sido eu. (Mais um caso de "O problema não és tu, sou eu" em estilo livrólico 😰).

Acredito que pode ser um bom ponto de partida para quem quer explorar o género de realismo mágico ou mesmo iniciar-se com literatura japonesa, de uma forma mais simples.

O Café dos Gatos - Anna Sólyom

Neste livro, seguimos a história de Nagore, que com 40 anos sente que a sua vida falhou. Sem grande alternativa, começa a trabalhar no Neko Café, que tem a particularidade de ser um café de gatos. A questão é que Nagore sofre de ailurofobia - também conhecida como aversão a gatos.

Ao iniciar as suas funções como empregada no café, Nagore rapidamente começa a aprender lições de vida importantes com cada um dos gatos residentes - os sete mestres de Neko - que irão mudar a sua vida.

Esta história deixou-me com um sentimento agridoce. Se por um lado está repleta de elementos extremamente queridos, por outro, não creio que esses elementos sejam suficientemente fortes para fazer uma boa obra.

A verdade é que não é um livro particularmente memóravel ou marcante, o que muito se deve ao facto das relações se desenvolverem num piscar de olhos sem que tenhamos sequer tempo para senti-las como credíveis, e também ao facto do plot deixar muito a desejar no que toca ao desenvolvimento (ou à falta dele).

É uma mistura entre um livro de auto-ajuda romance, o que não é necessariamente mau, mas neste caso senti que as lições foram impingidas e espremidas à força para encaixar no que estava a acontecer na narrativa, até ao ponto de se tornar muito repetitivo.

Deixo-vos com um exemplo: A lição "Sê autêntico de coração" é retirada por causa de um gato que andou à porrada com os restantes e a seguir foi dormir. Tirem as conclusões que acharem melhor 😅

Não pensem que não existiram pontos positivos, porque eles estão lá! Para mim, o mais cativante é tratar-se de uma leitura ideal para quem gosta de gatos (eu incluída). Fala até sobre a linguagem corporal dos gatos e como interpretá-la! Honestamente estas peças em conjunto com a forma como a relação dono-animal é retratada, foram as minhas partes preferidas sem sombra de dúvida. A maneira como este vínculo é retratado tão doce e terna, que qualquer pessoa que goste de animais vai sentir-se tocada.

Para quem já tiver lido, deixo uma observação: tive imensa pena de não acompanharmos mais da vida do Elias - a personagem mais querida e que mais gostei - e conhecermos mais sobre o seu percurso com o Sort.

Contas feitas e tudo pesado e considerado, acabei por me decidir pela classificação final de 2,5 estrelas.

Pode ser uma boa opção para uma leitura de verão por ser mais leve e mais despreocupada. E para além disso, aqui está o bónus: o livro está repleto de ilustrações adoráveis de gatos!

Disclaimer: Os exemplares foram gentilmente enviados pela Editorial Presença para efeitos de divulgação e recensão. Todas as minhas opiniões são honestas e não influenciadas.

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